segunda-feira, 11 de abril de 2011

Homofobia no esporte



































O Vôlei Futuro e Araçatuba, no interior de São Paulo, deram uma lição àqueles que, no jogo anterior contra o Cruzeiro, manifestaram-se como pessoas que morrem de medo de ver aflorar seus desejos mais íntimos ao hostilizar o jogador Michael por sua orientação sexual. Com bastões cor de rosa, com gandulas de rosa e com o líbero Mário Júnior de camisa arco-íris, o Vôlei Futuro satirizou o preconceito (melhor arma não há) e ainda por cima ganhou o jogo, empatando a série semi-final em 1 a 1. O Vôlei Futuro honrou seu nome ao dar no presente um soco no estômago do passado.Após uma semana marcada pela polêmica envolvendo o central Michael, vítima de homofobia no jogo de ida, Sada/Cruzeiro e Vôlei Futuro voltaram a se enfrentar em Araçatuba. Em um duelo marcado por manifestações contra o preconceito sexual, com as arquibancadas ‘pintadas’ de rosa. Michael foi o pivô de uma polêmica que envolveu as duas equipes durante a última semana. O central foi alvo de perseguição da torcida do Cruzeiro no jogo de ida, disputado em Contagem-MG. Xingado de ‘bicha’ todas as vezes em que pegou na bola, o jogador do Vôlei Futuro reclamou de preconceito sexual e deu início a uma troca de farpas entre diretorias das duas equipes.

O Vôlei Futuro buscou ‘responder’ às provocações preconceituosas do primeiro jogo. Bastões rosa com o nome de Michael foram distribuídos aos torcedores e coloriram as arquibancadas. O oposto Leandro Vissoto utilizou uma proteção rosa em sua mão esquerda, o líbero Mário Júnior vestiu uma camisa ‘arco-íris’. Os gandulas também estavam com camisetas rosa, portando mensagens contra preconceito sexual.

Abaixo a homofobia, abaixo o preconceito

O esporte e a homofobia é um tema recorrente nos últimos meses na mídia, tanto no âmbito internacional como local. Vamos aproveitar então para dar um geral no que se tem falado por ai. Dentre os assuntos em pauta, temos a do jogador de rúgbi, Gareth Thomas(primeiro da foto), que assumiu sua homossexualidade no fim do ano passado e virou capa da revista Atitude deste mês, que disse que quer ser um modelo de gay que nunca teve para servir de exemplo para jogadores novatos não temerem em assumir sua homossexualidade. Nesta semana, ele foi nomeado como patrono do LGBT History Month.Já o ator assumido Sir Ian Mckellen (o Magneto de ‘XMen’ e Galdalf no ‘O Senhor dos Anéis’- segundo da foto), declarou para a rádio BBC que fãs do esporte deveriam se envergonhar por discriminar atletas homossexuais e os transformarem em “violetas enrugadas” porque os esportistas acabam ficando com medo de serem vaiados em público. No futebol brasileiro especificamente, já contamos a história de Vilson Zwirtes (úlltima da foto), jogador de futebol assumido que prefere jogar nas divisões amadoras do futebol gaúcho como uma forma de defesa contra a discriminação das torcidas e que encontrou preconceito dos dirigentes esportivos de clubes profissionais, além de afirmar que existe muito assédio sobre os jogadores menores de idade. Mas o caso mais evidente de homofobia explícita no futebol é contra o jogador Richarlyson (terceiro da foto), que todo jogo tinha que enfrentar não somente o time adversário mas também a própria torcida são paulina, hoje jogando no Atlético Mineiro. Numa entrevista para o GloboEsporte.com, ele deixou claro que não se abalava. “Por que comigo a polêmica é sempre maior? Eu não entendo isso. Se coloco uma roupa apertada ou uma calça diferente é polêmico. Com outros, não. Mas quer saber? Isso nem me incomoda mais”, disse o jogador que não se assume homossexual porque talvez não o seja, mas “aproveito e mando um aviso a quem me critica. Eu não vou mudar, não vou deixar de ser o que sou por causa de uma minoria. Não vou deixar de viver do jeito que eu gosto porque esse ou aquele não gosta. Se eu estiver feliz, o resto não vai importar”, continuou ele, “O Brasil é um país muito preconceituoso. E não só em termos de sexo. É de raça, de religião. É uma pequena minoria que se acha no direito de se intrometer na minha vida”. Para Richarlyson, que ganhou um processo contra o diretor do Palmeiras, José Cirilo Júnior, que o chamou de homossexual e acha que “se não for 100%, tem 99% de relação” com as críticas que a torcida tricolor faz contra ele, do juíz que não quis aceitar o processo contra o diretor palmeirense, sugerindo para Richarlyson que “melhor seria que abandonasse os gramados”, da apresentadora Silvia Poppovic que disse que ele tinha assumido a homossexualidade e das ameaças de morte feitas quando se apresentou com cabelos cumpridos, diz que a sua força de reação é alimentada exatamente pelas provocações contra ele, “você não tem noção de como isso me alimenta. É um combustível enorme. Porque sei que é uma injustiça muito grande. Desculpe o termo, mas, quando entro em campo, só penso em f… esses caras”. Não importa no caso do Richarlyson se ele é heterossexual ou prefere ficar no armário. Isto só a ele deveria importar. Mas a sua orientação sexual ficou presumida pela mídia e pelos populares. O que importa é o preconceito e a homofobia que estão sendo cometidos contra ele por conta desta orientação sexual presumida. Aos que agem assim deveriam se envergonhar. Outro exemplo de preconceito contra outro esportista, mas este assumiu sua sexualidade numa época onde a homossexualidade não era tema relevante para a mídia esportiva, foi o caso de Justin Fashanu (quarta foto). Ele enfrentou o preconceito e discriminação nos times que atuou e, em maio de 1998, suicidou depois de ser acusado de assédio sexual contra um menor de 17 anos. E em sua homenagem, foi criada a Campanha Justin, que pretende sensibilizar o público contra o preconceito e discriminação aos atletas homossexuais, aproveitando-se da sua data de nascimento, 19 de fevereiro, como dia internacional no combate da homofobia no futebol. Os organizadores da campanha esperam que clubes de futebol adotem por um dia o logotipo da campanha e façam mensagens anti-homofóbicas para apoiar a causa. O diretor e fundador da campanha, Jason Bartholomew Hall disse que “nós achamos que é importante ter um dia por ano onde clubes e torcedores serão capazes de unir-se contra o ódio e a intolerância no seu esporte”.

Uma coisa é certa, voltando à entrevista que Ian Mckelline fez para a BBC, “o mundo está mudando, mas temo que o esporte seja muito lento para acompanhar rapidamente”.


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